“Eu crio para a rebelião”

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A arte está no coração do que nos torna humanos. É por isso que, em uma era de construção de muros e de culpar o outro, é essencial que a expressão cultural seja livre e valorizada. Toda história conta, mas nem toda história recebe a atenção que merece.

O YCreate é uma plataforma para conectar a próxima geração com histórias extraordinárias e diversas perspectivas de pessoas criativas de todo o mundo.

Esta entrevista foi concedida ao YCreate pelo Maurício de Silva de Lima, um dos artistas criadores que participou do processo formativo “Transformando Ideias em Ação”, uma oficina de desenvolvimento de projetos voltada para jovens empreendedores culturais que atuam em bairros populares do Rio de Janeiro. Seu projeto “Museu dos Meninos” recebeu uma bolsa do Prince Claus Fund da Holanda. Parabéns Maurício!

YCreate

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8 de abril · 4 min. De leitura

Partindo da rede do Prince Claus Fund, o YCreate explora a paleta humana de sonhos, medos e motivações com uma pergunta-chave: por que você cria? Diante da crise de Covid-19 no Brasil, artista e fundador do Museu dos Meninos , Maurício da Silva de Lima reflete sobre como é ser um artista no Brasil, suas inspirações e aspirações.

Mauricio, por que criar?

Eu crio por necessidade. Crio pra me manter vivo. E crio também por rebeldia. Quando se nasce pobre, preto, dentro de uma favela, ser artista é uma afronta. Eles querem te fazer acreditar que o seu ‘futuro’ existe antes mesmo de vc nascer. Depois querem que você acredite que a arte é supérflua. Que ser artista é um privilégio e que isso não é pra você (e de fato, para algumas pessoas ser artista é um privilégio sim). A sociedade tenta diariamente me convencer que esse não é meu lugar. Mas eu crio, repito, por rebeldia, porque acredito que o lugar das coisas pode ser diferente. A criação pra mim é um direito irrevogável e um exercício político necessário.

Quem o inspira no seu trabalho?

A minha ancestralidade e todos aqueles que vieram antes de mim e que abriram o caminho por onde ando hoje são a minha maior inspiração. Todas as questões ético-estéticas relacionadas à negritude contemporânea, suas identidades e ancestralidades. A complexidade e diversidade cultural brasileira. E a fé que tenho no corpo e na palavra. Tudo isso me move, inspira e tem guiado meus trabalhos.

Como é ser artista no Brasil?

Ser artista no Brasil é cansativo. É um trabalho diário, constante e muito árduo. A gente vive em uma sociedade que tem a educação, a cultura e a arte como inimigos. A arte é uma ferramenta que empodera o indivíduo. E um indivíduo empoderado, criativo, capaz de refletir e olhar pro mundo de forma crítica, e capaz também de transformar o coletivo no qual está inserido, é uma ameaça para o Estado. O artista hoje no Brasil é um inimigo público porque a arte é um convite ao pensamento mas o que o Estado quer é uma sociedade que não pense.

Como você está lidando com a situação e os eventos da Covid-19 no Brasil?

Tem sido dias difíceis aqui. A situação traz muitos medos e incertezas sobre o futuro. Nós aqui temos lutado contra um vírus e contra um verme chamado Jair Bolsonaro.
Enquanto a maior parte da população luta contra o corona virus, respeitando o isolamento social, o presidente defende o fim da quarentena, diz que o coronavírus é apenas uma gripezinha – além da demora na implementação de medidas emergenciais ineficientes para saúde e apoio a população pobre. Declarações como a de Bolsonaro podem fazer com que o nível de mortalidade no Brasil seja muito grande. Por exemplo, nas favelas é comum uma família de 6 pessoas viverem em uma casa com apenas 3 cômodos, com pouca ou nenhuma ventilação. Muitas pessoas são obrigadas a trabalhar para não serem demitidas. Muitas pessoas possuem trabalhos informais e não vão ter dinheiro para comida. Não há política pública que acolha a nossa complexidade social. O cenário que se desenha é assustador. As atitudes de Bolsonaro perpetuam o genocídio contra a população preta, pobre e favelada.

Isso tudo tem gerado uma tensão que tenta me paralisar. Os dias se tornaram uma batalha contra para manter o corpo e a alma saudáveis. Fora isso, tenho conversado com o silêncio da cidade. Tentado perceber a mudança sutil no movimento na Terra. Desacelerar. Tudo com uma única certeza: vai passar.

Tendo em mente a atual crise de coronavírus e a resposta de Bolsonaro a ela, você acha que os criadores têm um papel no ativismo sócio-político?

Tenho certeza. O artista é um profissional que está inserido na sociedade tal qual o médico, o professor, o engenheiro, o padeiro… A arte é como a educação, ela opera num lugar muito potente do indivíduo: a subjetividade e o senso crítico.

Como você lida com as adversidades?

Eu sempre tento lembrar que não é nada pessoal. Desde de muito cedo eu lido com isso. Adversidades. Elas me ensinaram a dançar. Eu diria então que eu lido com as adversidades dançando. Transformando a morte em pulsão de vida.

Qual é o seu sonho?

Eu tenho muitos sonhos. Muitos. Nesse momento quando penso em sonho, penso inevitavelmente em futuro. E ai eu respondo que o meu sonho é ser respeitado e poder ter uma vida com mais dignidade, trabalhando com o que eu eu escolhi e com o que acredito.

Que conselho você daria a seu eu de 16 anos de idade?

Pega leve com você mesmo – o mundo já é duro demais. Se ame! Ocupe os espaços que você deseja e acredite em você e nas suas ideias. Novamente, se ame. E acredite: seu cabelo é lindo, cuide dele senão ele vai cair rápido. (risos)

Veja mais do trabalho de Mauricio no Museu dos Meninos – um projeto transdisciplinar que mapeia, coleta e preserva as narrativas e memórias de 30 jovens negros no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, Brasil. Consiste em um museu virtual de entrevistas em vídeo com esses homens, juntamente com uma série de intervenções públicas nas ruínas de casas nas favelas que foram destruídas para dar lugar a uma rodovia. Nesse museu, esses jovens exercem o direito irrevogável de serem os narradores de suas próprias histórias.

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Resultado Edital Rio de encontros 10 Anos: Transformando ideia em ação

O Rio de encontros torna público o resultado do processo seletivo do edital Rio de encontros 10 Anos: Transformando ideia em ação. Agradecemos o interesse de todos os que participaram.

Selecionados turma 2019

Anauan Ourique Andrade

Brunna Ellen

Daiani Cristina Mariano de Araujo

Felipe Cavalcante dos Santos

Flávia Gonçalves Macêdo

Ingrid de Sousa Machado

Jota Marques

Juliana Geise Melo Leoncio Moreira

Lorraine Gonzaga Pires Ferreira

Maira Esteves Machado

Mauricio da Silva de Lima

Midian Brandão

Natália Oliveira Cristovão da Silva

Patrick Nunes Pereira

Rafael Mendes de Oliveira

Rômulo da Silva Vieira

Rômulo Paiva da Silva

Sandro Bernardo Garcia

Tayane de Almeida Dias da Silva

Thamires Soares

 

Selecionados para entrevista turma 2019

O Rio de encontros torna público a lista d@s selecionad@s na primeira etapa do edital Rio de encontros 10 Anos: Transformando ideia em ação. Agradecemos o interesse de todos os que participaram. As entrevistas serão realizadas na quarta-feira, 24 de abril, de 12h ás 18h.

 

Selecionados para entrevista:

Anauan Ourique Andrade

Brunna Ellen

Caroline Silva de Oliveira

Daiani Cristina Mariano de Araujo

Diego Mesquita Dos Santos

Felipe Cavalcante dos Santos

Flávia Gonçalves Macêdo

Iacyara Helena Coelho Carneiro Alves

Isabella de Souza Pinheiro dos Santos

Ingrid de Sousa Machado

Ikaro Marques Vitorino

Jessica Fernandes da Mota

Jota Marques

Juliana Geise Melo Leoncio Moreira

Lorraine Gonzaga Pires Ferreira

Maira Esteves Machado

Mauricio da Silva de Lima

Midian Brandão

Natália Oliveira Cristovão da Silva

Patrick Nunes Pereira

Rafael Mendes de Oliveira

Rômulo da Silva Vieira

Rômulo Paiva da Silva

Rodrigo Jeferson Caetano

Sandro Bernardo Garcia

Tayane de Almeida Dias da Silva

Thamires Soares

Thamyres Gomes Lopes

Inscrições prorrogadas para turma 2019!

Para comemorar 10 anos de intensos debates, o Rio de encontros foi reformulado atendendo à nova geração de jovens cariocas. Compreendendo que esse público é formado por agentes culturais que promovem o desenvolvimento local de seus territórios, pretende-se contribuir para que várias ideias entrem em ação com o apoio da Escola superior de Propaganda em Marketing (ESPM). O Rio de encontros 2019 convida jovens entre 18 e 29, que tenham projetos de impacto local, a compartilhar suas ideias e somar com nossa equipe de especialistas para que juntos formemos ações potentes de transformação social.

Os 20 jovens selecionados participarão de um encontro por semana entre maio e agosto, contarão com uma bolsa de oitenta reais/semana e o certificado da ESPM. O objetivo desses encontros é fazer com que ideias relevantes saiam do papel da melhor forma possível a partir de contribuições de profissionais experientes.

O programa Rio de Encontros 10 Anos: Transformando ideias em ação será realizado em parceria com o Museu de Arte do Rio – MAR, o Mestrado Profissional em Gestão da Economia Criativa da Escola Superior de Propaganda e Marketing do Rio de Janeiro (ESPM RJ), e a Cardápio de Ideias.

Prazo limite para envio de formulário de inscrição: Até 18 de Abril

Faça sua inscrição através do formulário: https://bit.ly/2FQebnx

Leia o edital completo: https://tinyurl.com/y2q6hs6s

Divulgação dos selecionados: 25 de abril

Rio de Encontros encerra ano de atividades com tarde dedicada à arte.

Sarau “Artes do Encontro no Mar Aberto” teve participação de 10 artistas e 2h30 de duração

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Uma tarde de atividades artísticas marcou o encerramento do Rio de Encontros 2018. Batizada de “Artes do Encontro no Mar Aberto” , o evento mobilizou 10 artistas e atraiu um público diversificado ao pilotis do Museu de Artes do Rio (MAR) no último dia 13. O sarau fez parte da programação do do Fórum #Maraberto, iniciativa vinculada à exposição “Arte Democracia Utopia”.

Quem esteve no local na ocasião pode presenciar a produção de retratos pela designer e artista gráfica Thais Linhares, uma batalha de MCs ao vivo comandada por Fernando Espanhol e um show de stand-up de Rodrigo Diomar, entre outras atrações. A performance “Crônica de uma performance anunciada”, de Marcelo Ostachevski, arrancou aplausos do público, que se emocionou em seguida com a poesia da Gênesis, vencedora do Slam das Minas, e a leitura pela contadora de histórias Thamires Soares de trechos do livro “Quarto de Despejo”, de Carolina Maria de Jesus. Ao fim, todos  participaram de um aulão aberto de charme comandado por Felipe Salsa.

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Juventude, Democracia e Participação Política na Cidade foi o foco das seis rodas de conversa do Rio de Encontros ao longo de 2018. De acordo com Ilana Strozenberg, diretora acadêmica d’O Instituto, os debates deixaram duas grandes lições para todos os participantes. A primeira é a ideia de que só existe democracia quando as diferenças convivem e dialogam. A segunda é a de que não existe arte que não seja política.

“É a presença de iniciativas como a de vocês que dá sentido ao projeto desse museu”, agradeceu Bruna Camargo, representante do departamento educativo do MAR.

Atos-retratos de Thais Linhares fazem sucesso ao som da DJ Rainha Crespa

Designer e artista plástica produziu mais de 20 retatos no sarau de encerramento do Rio de Encontros 2018.

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O que é você na cidade? Essa pergunta serviu de ponto de partida para a elaboração dos atos-retratos, atividade proposta pela designer Thais Linhares no sarau “Artes do Encontro no Mar Aberto”. Suas ferramentas na experiência foram foram bastões de pastel oleoso de cerca de 30 cores diferentes e folhas de papel canson colorido. Com os itens em mãos, ela iniciava uma conversa com o retratado enquanto o desenhava com traços simples, mas precisos.

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Batalha de MCs comandada por Fernando Espanhol lota pilotis do MAR

Duelo entre MC Zack e Mr. Pac chamou a atenção do público na Praça Mauá

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A Praça Mauá foi palco de um confronto por volta de 17h20 do último dia 13. Porém, o tiroteio de rimas figuraria melhor no caderno de cultura do que nas páginas policiais. Comandada por Fernando Espanhol, a batalha entre MC Zack e Mr.Pac fazia parte da programação do sarau “Artes do Encontro no Mar Aberto” e encheu de curiosos o pilotis do Museu de Arte do Rio. Continuar lendo

“Ninguém sabe o quanto é horrível ver um filho comer e perguntar ‘tem mais?’”

Thamires Soares emociona público com trechos de Quarto de Despejo, de Carolina de Jesus

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Um texto pode se manter atual e capaz de emocionar leitores 60 anos depois de ser escrito? Se a obra em questão for “Quarto de Despejo” e a autora, Carolina Maria de Jesus, a resposta é sim. Foi isso o que provou a leitura de trechos do livro por Thamires Soares no sarau “Artes do Encontro no Mar Aberto”, realizado na tarde do último dia 13. Continuar lendo

“Crônica de uma performance anunciada” impressiona público de sarau no MAR

Com performance de teor político, Marcelo Ostachevski foi responsável pela primeira apresentação cênica da tarde.

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“Não é possível pensar em arte sem pensar em política”, afirmou a crítica de arte e pesquisadora Fernanda Lopes no Rio de Encontros de setembro. No sarau “Arte do Encontro no Mar Aberto”, o ator Marcelo Ostachevski apresentou uma performance contundente que impressionou o público presente no pilotis do MAR. Continuar lendo

Gênesis apresenta a poesia que “não é brinquedo” no Artes do Encontro no Mar Aberto

Vencedora do campeonato estadual de slam poetry foi uma das atrações do sarau

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Com quantos versos se faz um mundo melhor? Essa pergunta sem resposta parece ser a força que move adiante a obra de Geise Gênesis Gomes. Vencedora do campeonato estadual de slam poetry, ela foi a convidada especial da tarde. O tom da urgência de sua performance poética foram uma  presença marcante no sarau Artes do Encontro. Continuar lendo

Democracia e movimentos da sociedade civil: arte, gênero, raça e religião – o debate em frases

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O Rio de Encontros da última quinta-feira, 28 de setembro, começou de forma especial, com uma visita à exposição Democracia, Arte, Utopia, recém inaugurada no MAR. A visita foi mediada por um membro da equipe pedagógica do museu e teve a presença da curadora assistente da mostra, Fernanda Lopes, que participou como provocadora do debate realizado logo em seguida, na sala 2.2 da Escola do Olhar.

As dificuldades no acesso à arte, a relação entre política e religião e o impacto das próximas eleições foram alguns dos assuntos abordados na roda de conversa, cujo tema Democracia e movimentos da sociedade civil: arte, gênero, raça e religião, dialogava diretamente com várias questões presentes na exposição. O debate mostrou a complexidade das articulações entre aspectos aparentemente muito distintos da vida social e propôs uma reflexão crítica sobre o caráter reducionista e preconceituoso das visões generalizantes.

Além da crítica de arte e pesquisadora Fernanda Lopes, a socióloga e especialista em estudos da religião Maria das Dores Machado e a jornalista da revista Gênero e Número Lola Ferreira foram as provocadoras no debate mediado por Ilana Strozenberg.

Confira abaixo algumas das falas mais emblemáticas da roda de conversa: Continuar lendo

Uma briga por corações, mentes e espaço

Busca de espaço político por evangélicos incomoda elite branca católica no Brasil, defende professora Maria das Dores

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Maria das Dores Machado vê uma semelhança inusitada entre a bancada evangélica e o movimento LGBT. Para ela, os dois grupos são forjados a partir da noção de identidade, que está em ascensão no Brasil e é decisiva para entender seus comportamentos. Provocadora do Rio de Encontros de setembro, a professora da Escola de Serviço Social da UFRJ apontou algumas razões para o fenômeno durante sua participação. Continuar lendo

Com Deus e pela igualdade

Jornalista Lola Ferreira falou sobre feminismo em igrejas evangélicas na roda de conversa

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Há lugar para feminismo dentro das igrejas evangélicas? Para Lola Ferreira, a resposta é sim e cada vez mais. Convidada do Rio de Encontros de setembro, a jornalista comentou os desafios enfrentados pelos grupos que defendem a igualdade entre homem e mulher nos templos do país. Continuar lendo

Não existe arte sem política

Crítica Fernanda Lopes comentou relação entre os universos da arte e da política no último encontro

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Arte e política se misturam ou não existem separadas? Para a crítica e pesquisadora Fernanda Lopes, os dois fenômenos sempre caminham juntos e querer isolá-los é fatiar as diferentes porções que compõem o artista. Convidada da última edição do Rio de Encontros, a provocadora falou sobre essa discussão e de movimentos históricos ligados a ela. Continuar lendo