Como viabilizar o diálogo na cidade? Pergunta lançada, palestrante a postos e plateia atenta, assim começou a edição 2014 do Rio de Encontros, terça-feira, 25, na Casa do Saber Rio O Globo. Durante mais de três horas, o antropólogo e escritor Luiz Eduardo Soares, uma das maiores autoridades do país em segurança pública, discorreu sobre violência, preconceito, humanidades, política, práticas remanescentes da ditadura, as manifestações de junho de 2013, desobediência civil, desmilitarização da polícia. Uma conversa franca com jovens que desenvolvem projetos nas periferias da cidade e alunos da ESPM, nova patrocinadora e parceira do projeto, pesquisadores, representantes de instituições governamentais, arquitetos e urbanistas, professores, pesquisadores e jornalistas.
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Confira algumas das frases que pontuaram a fala de Luiz Eduardo Soares, cuja formação – teórica e prática – tem a violência como campo de análise.
“No Rio, temos errado erros antigos: violência, desigualdades, racismo. Atolamos no pântano.”
“Há avanços significativos, mas os problemas persistem. Lutamos para construir o estado democrático, e ele continua bruto, promovendo violência contra negros, pobres e moradores da periferia.”
“A brutalidade se naturalizou.”
“Não temos o hábito de dar nomes às práticas criminais usuais que se reiteram, que constituem padrão e estão enraizadas porque houve continuidade. A transição democrática não interrompeu o processo, os crimes do estado.”
“Quando reduzimos a magnitude da conduta humana, não entendemos que somos cúmplices e responsáveis.”
“Ser politicamente correto é imprescindível e mal interpretado no Brasil.”
“Precisamos bater as panelas, fazer barulho, buzinar, acordar a cidade. É impossível continuar com esses números (as 9.646 mortes provocadas por ações policiais no Estado do Rio de Janeiro entre 2003 a 2012)”
“Eu não adoto a violência dramaticamente encenada na rua (durante as manifestações populares a partir de junho de 2013). Essa não me parece a forma conveniente de reverter o quadro.”
“Há um ódio que expressa a inaceitabilidade da violência perpetrada pelo estado.”
“Vitrine quebrada é pouco, porque as mortes são inaceitáveis.”
“Não é preciso ser maniqueísta ou marxista. Um liberal de boa cepa reconheceria a legitimidade da desobediência civil… O estado é assassino.”
“Temos de dispor de instrumentos democráticos, que são as instituições. A polícia tem de existir.”
“O que digo é doloroso, mas não é desanimador. precisamos falar francamente para dialogar. os governos têm contas a prestar: o assassinato em massa de jovens negros e pobres.”
“A melhor forma de reparar é reconhecer os erros publicamente. O discurso chapa branca é parte da brutalidade.”
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