A orelha de Zuenir Ventura deve ter ardido na manhã do dia 25 de agosto. O conceito que batizou seu emblemático livro Cidade Partida, de 1993, apareceu diversas vezes na conversa.
Primeiro, foi citado por Faustini e Claudius de uma forma crítica.
Faustini: “Eu acho que esta cidade não é partida, nunca foi. Os pobres sempre estiveram na vida da Zona Sul, como guardador,como doméstica, atendendo a expectativa da classe média”.
Claudius: “Cidade partida é uma interpretação do Zuenir. Nestes quase 20 anos acho que isso não existe mais”.
Ao longo do papo, entretanto, vozes dissonantes começaram a aparecer. Alguém da plateia lembrou que são poucas as pessoas que fazem a ponte entre os diferentes universos da cidade. A jornalista Anabela Paiva defendeu o conceito: “Acho que a prova de que ele foi forte e oportuno é a sua capacidade de gerar mobilização contrária. Zuenir identificou um sintoma que incomodava e as pessoas até hoje querem superá-lo. É uma marca de comunicação, um mote”.
Faustini resumiu a situação com exemplos: “Ao mesmo tempo que é uma cidade integrada, que tem conversa da empregada com dona de casa, é extremamente desigual nos direitos. Isso o conceito ajudou a pensar. A gente convive na rua, no bloco, no carnaval, na praia, mas na hora de dividir os direitos, os editais, o acesso, aí as oportunidades são totalmente diferentes”.