A lan house como creche e cartório

Regina Casé dá sua opinião do meio da plateia (Foto: Alex Forman)

No mundo ideal de Regina Casé, o Estado entederia que, ao invés de boicotar o potencial aglutinador das lan houses, a melhor coisa a fazer seria deixar esses espaços seguirem suas vocações. Sim, para ela esses estabelecimentos têm vocação para creche, cartório e centro de reforço escolar, como já mostrou em sua série no Fantástico. Com a palavra, a comunicadora:

– Às vezes tem coisa legal que está funcionando e não é aproveitada com a chegada do Estado. A lan house segue o mesmo percurso do funk. Sempre tem uma lan house na subida do morro, que junta gente lá de cima e do asfalto. Aí acaba sendo empurrada para dentro da favela, aí começa a ter uso indevido… E volta para o asfalto como “coisa de bandido”. Mas é lugar de fazer currículo, fazer matrícula na escola. O dono da lan house é como um dono de creche! São dez funções boas para uma ruim, e a ruim criminaliza tudo. Devia haver processo rápido de formalização, se transformar quase num cartório, ter parceria com as escolas, ser utilizada como reforço escolar, com monitores para tirar dúvidas de português e inglês. Pequenas coisas que poderiam gerar uma boa repercussão em tempo mínimo! É crime criminalizar lan houses!

Repensar os papéis do movimento comunitário

Terceiro convidado a falar, William de Oliveira, mais conhecido como William da Rocinha, falou da sua experiência como líder comunitário. Um papel que começou por uma via inusitada: a música. DJ profissional, fazia bailes funk na favela e em várias cidades brasileiras. Atuação política não estava nos seus planos.

– Nunca sonhei ser presidente da Associação. Nem sabia onde ficava – lembrou.

No entanto, a própria atividade de DJ fez dele liderança. Com o tempo,  percebeu que tinha a oportunidade de fazer um trabalho comunitário importante.

Inicialmente, pensava que poderia fazer e acontecer. Aprendeu que não era bem assim.

– A gente quando assume sonha que vai fazer o papel do poder público. É só um sonho, não é real. E isso gera problemas, pois as pessoas passam a te cobrar o que você prometeu. Você vai no Prefeito, vai na Alerj, na Câmara de Vereadores e nada acontece. A gente passa a sofrer na comunidade. A gente quer se doar, quer fazer e a gente não é o poder público.

Depois de William, Eliana Sousa também comentou o processo de amadurecimento do movimento comunitário:

– Como na favela o Estado não entrava, a associação tentava cumprir o papel do Estado.  Fui presidente da Associação de Moradores da Nova Holanda três mandatos. Nosso desafio era sair do papel de substituto do poder público e organizar as pessoas do ponto de vista político.